O presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu, ontem, o apoio formal do PDT e do candidato derrotado do partido no primeiro turno, Ciro Gomes. Para hoje, espera-se a chegada da emedebista Simone Tebet — com a qual o petista disse ter conversado — e de Giberto Kassab, que traria o PSD. Outro que deve explicitar, hoje, que estará com Lula no segundo turno é o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
O acordo entre PT e PDT saiu depois de uma conversa entre os presidentes das duas legendas, Gleisi Hoffman e Carlos Lupi, respectivamente. Em Brasília, o dirigente pedetista confirmou que o fechamento em torno de Lula obteve a unanimidade da executiva nacional.
“Duas personalidades completamente diferentes: de um lado está o Lula, que é um democrata; de outro, um aspirante a ditador, que é o Bolsonaro — que, na nossa opinião, representa o atraso do atraso do atraso deste país, malversador do dinheiro público, um homem da falsa fé cristã. Nosso trabalho para derrotar Bolsonaro tem que ser a prioridade absoluta, é uma causa nacional, uma causa da pátria, uma causa dos democratas”, exortou.
Em troca do apoio, Lupi deve apresentar quatro projetos da campanha de Ciro para serem avaliados e incorporados ao programa de governo de Lula: o projeto de renda mínima de R$ 1 mil; a proposta de renegociação das dívidas dos brasileiros que estão negativados no crédito; a ampliação das escolas de ensino integral; e o Código Brasileiro do Trabalho.
Se Lupi deixou claro que o PDT apoia Lula, mas não esqueceu as divergências do PT — disse, inclusive, que rusgas de campanha são situações normais na política —, o mesmo não se pode dizer de Ciro. Por meio de um vídeo postado nas redes sociais, ele disse que seguia as orientações da cúpula partidária e manteve as críticas ao adversário do primeiro turno — cujo nome não citou uma única vez. Mais: colocou o ex-presidente e Bolsonaro no mesmo patamar político, além de dizer que o Estado de Direito não corre riscos.
“Lamento que a trilha democrática tenha se afunilado a tal ponto que reste aos brasileiros duas opções, ao meu ver, insatisfatórias”, afirmou. “Não acredito que a democracia brasileira esteja em risco nesse embate eleitoral, mas, sim, no seu absoluto fracasso da nossa democracia em construir uma ambiente de oportunidades. Adianto que não pleiteio e nem aceitarei qualquer cargo em eventual futuro governo. Quero estar livre, ao lado da sociedade. E, em especial, da juventude, lutando por transformações profundas como as que propusemos em nossa campanha”, acrescentou
Mesmo com o apoio formal, analistas apontam como pouco provável que Ciro marque presença nos palanques petistas, sobretudo porque o pronunciamento não dá nenhuma indicação nesse sentido — o respaldo envergonhado, aliás, gerou uma onda de críticas de internautas. Já Lupi, quando questionado sobre a participação em eventos do petista, afirmou que estará presente sempre que o PDT for convidado
Aproximação
Já o apoio de Simone Tebet também é esperado, desde que a senadora cobrou do MDB e de aliados um posicionamento o quanto antes. Ontem, Lula confirmou que os dois conversaram — mais cedo, circulavam rumores de que se falaram por telefone.
“Temos um tempo de respeito à relação que nossa presidenta (Gleisi) tem com os partidos políticos. Antes de conversar pessoalmente com as pessoas, nós temos tentado conversar com os partidos, para que não haja um rompimento das relações diplomáticas”, salientou Lula, depois de um encontro com frades franciscanos em seu escritório político, em São Paulo. Tebet só deve se declarar após a reunião da cúpula do MDB, que segundo o presidente da sigla, deputado Baleia Rossi (SP), pode ser realizada hoje.
Outro apoio obtido por Lula foi do Cidadania, presidido por Roberto Freire, que compôs junto com o MDB, PSDB e Podemos a chapa de Tebet. “O atual chefe do Executivo representa valores contrários aos princípios democráticos, ao respeito às diferenças e aos direitos humanos, à defesa da ciência e da vida”, afirmou a legenda, por meio de nota. “O desprezo de Bolsonaro às minorias, a condução desumana e incompetente da pandemia, que resultou em centenas de milhares de mortos, suas reiteradas tentativas de cercear órgãos de investigação, os ataques à imprensa e a jornalistas, nada disso merece mais quatro anos”, acrescenta o texto.
Segundo Freire, o posicionamento foi tomado independentemente de seus aliados. MDB, PSDB e Podemos não se decidiram ainda, mas os tucanos e emedebistas devem deixar seus diretórios estaduais livres para escolher entre Lula e Bolsonaro.
O petista também vem negociando com membros do PSD e se reunirá amanhã, também em São Paulo, quando deve sair a formalização. “Fui informado que vem um grupo de pessoas do PSD aqui apoiar a nossa candidatura, apesar de o (Gilberto) Kassab apoiar o nosso adversário, aqui em São Paulo. O PSD, a nível nacional, vai me apoiar para a Presidência da República. E assim nós vamos costurando cada personalidade, cada partido político, sem criar constrangimento a ninguém”, observou Lula.